(EF06ER20MG) Refletir que o sentido de determinados símbolos pode ter sentidos diferentes para as pessoas, o que denota as diferentes histórias culturais e religiosas.
AQUELE QUE CONHECE APENAS UMA RELIGIÃO NÃO CONHECE NENHUMA (MAX MULLER –Orientalista e filósofo alemão – séc. XIX)
(TEXTO DE APOIO AO PROFESSOR = NÃO recomendado aos alunos do sexto ano)
“Não julguem, para que vocês não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados, e a medida que usarem também será usada para medir vocês”. MATEUS 7: 1,2
Sempre que leio essa passagem bíblica, lembro de uma filosofia milenar da tradição budista chamada lei do karma. Como muitos sabem, trata-se da lei de causa e efeito freqüentemente descrita no ocidente como “Você colhe o que planta” ou “Tudo que vai volta”. É um conselho maravilhoso que nos compele a examinar as conseqüências de pensamentos, palavras e ações. Apesar de ser budista, fui profundamente influenciado por algumas passagens da Bíblia. A primeira vez que a estudei com seriedade foi na faculdade, para uma aula de religião comparada. Aprendi sobre a história do cristianismo e analisei várias lições bíblicas – e logo comecei a abrir meu coração. Eu me dei conta de a Verdade não é propriedade de nenhuma religião. Sua natureza permite que pessoas das mais variadas religiões a reconheçam e respeitem.
Cerca de dois anos atrás, tive a oportunidade única de visitar um vilarejo francês chamado Taizé, na Borgonha, com alguns monges mais velhos da minha ordem budista. Trata-se de uma comunidade cristã ecumênica, onde os freis vivem de acordo com a Bíblia. Taizé é um famoso local de peregrinação cristã, atraindo por ano mais de 100 mil jovens adultos de todo o mundo. Os peregrinos costumam passar vários dias na comunidade, participando de orações de manhã, de tarde e de noite, assim como de reflexões em silêncio e de discussões em grupo. Eu já estava familiarizado com os cantos comoventes pela oportunidade de participar de suas maravilhosas sessões de oração.
Quando chegamos ao belo vilarejo, os freis saíram nos saudando calorosamente. Em túnicas brancas, eles tinham sorrisos gentis e uma presença tranqüila, quase como se fossem anjos encarnados. Nossas túnicas cinzentas eram muito semelhantes às deles, e parecia que tínhamos nos tornado uma grande família. Os freis nos levaram para um tour pela comunidade e, para nos dar as boas-vindas oficiais, cantaram “Confitemini Domino”- uma das canções mais lindas que já ouvi em toda a minha vida. Fomos convidados a conhecer seus aposentos e depois ficamos batendo papo até a hora das orações do meio-dia na Igreja da Reconciliação. Quanto mais tempo eu passava em Taizé, mais percebia a semelhanças com a vida num mosteiro budista. Os freis passavam horas em orações silenciosas para o Deus interior, prática não muito diferente da nossa meditação silenciosa. Outra semelhança é que os freis usavam um anel para representar os votos a Deus; os monges da minha ordem “usam” uma pequena marca de queimadura de incenso no braço esquerdo quando recebem os preceitos completos.
Algumas pessoas podem pensar que a vida numa comunidade assim é repressora, rígida e difícil, mas não é o caso. A vida monástica é caracterizada pelas belezas simples e as alegrias inesperadas. Os monges encontram felicidade em coisas que podem parecer triviais para aqueles que estão em busca de armadilhas materiais do sucesso. Assistir à mudança das estações – as magnólias florescendo, as deslumbrantes folhas do outono, a primeira neve – traz uma sensação indescritível de alegria e gratidão. Uma simples refeição feita com ingredientes frescos das montanhas ao redor é fonte de grande contentamento. E como nossos irmãos de mosteiro são nossos amigos, mestres e familiares, nunca nos sentimos sozinhos.
No almoço, para nossa completa surpresa, nos ofereceram Kimchi, um prato típico coreano. Eles nos disseram que os próprios freis haviam se reunido pouco antes de nossa chegada para prepará-lo. Ficamos tão tocados pela hospitalidade que não soubemos como retribuir. Apesar de sermos de outra religião e de um país diferente, eles nos receberam com respeito e amor. Quando partimos de Taizé, nos sentimos como se tivéssemos acabado de visitar primos há muito perdidos. Eu sabia que reverenciaria esses laços pelo resto da vida. Até hoje quando encontro um dos monges mais velhos que foram a Taizé comigo, nos lembramos com carinho do Kimchi e das baguetes oferecidas pelos freis.
SUMIN, Haemin. As coisas que você só vê quando desacelera. Sextante, Rio de Janeiro, 2017, págs. 229 a 232
PARA PENSAR
“O propósito da religião é controlar a si, não criticar os outros.
O que estou fazendo em relação a minha raiva, meu apego, meu ódio, meu orgulho e minha inveja?
Isso é que precisamos nos perguntar no dia a dia.”
Sua Santidade, o Dalai Lama
“Como devemos considerar um caminho espiritual diferente? Devemos abordá-lo com humildade e com a boa vontade de aprender sobre outra tradição.
Se a nossa fé puder ser abalada pelo mero conhecimento sobre uma tradição diferente, não vale mesmo a pena preservá-la.”
Reverendo Dr. Kang Won Yong (1917-2006)
“Se Jesus, o Buda e Confúcio estivessem vivos e se reunissem no mesmo lugar, será que os três iriam discutir para saber quem está certo?
Ou será que iriam respeitar e admirar os ensinamentos uns dos outros?
“Conflitos religiosos normalmente acontecem não ente os fundadores dessas religiões, mas entre seus seguidores fanáticos.”
Haemin Sunim
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